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O COTIDIANO DA LÍNGUA |
As pessoas que não têm o hábito da leitura nem do estudo sistemático da gramática sentem bastante dificuldade em escrever um texto, por menor que ele seja. Quando conseguem produzi-lo, não percebem as inadequações gramaticais e não sabem reproduzi-lo caso observem uma falha na estrutura ou mesmo caso queiram dizer o que disseram por outro viés. Muitas são, no entanto, as maneiras de se transmitir uma mensagem. Observe, por exemplo, o seguinte trecho:
“Duzentos anos de buscas foram necessários para que os portugueses chegassem ao ouro de sua América. Aos espanhóis não se apresentou o problema da procura e pesquisa dos metais preciosos. Assim que desembarcaram no México, na Colômbia ou no Peru, seus olhos mercantis foram ofuscados pelo ouro e prata que os homens da terra ostentavam nas suas armas, adornos e utensílios. Junto às suas civilizações, o gentio havia desenvolvido a exploração e o trabalho dos metais, para eles mais preciosos pelas suas serventias que pelo poder e valor que agregavam ao homem da Europa cristã, de alma lapidada pela cultura ocidental”.
Suponhamos que o autor do texto não tenha gostado da primeira frase e quisesse reproduzi-la de maneira diversa. Como o fazer? Leiamos a frase de novo: “Duzentos anos de buscas foram necessários para que os portugueses chegassem ao ouro de sua América.”
Observe que o autor informou que os portugueses efetivaram buscas durante duzentos anos até encontrarem o ouro em sua América. Há, portanto, a indicação de tempo passado: duzentos anos. Quando houver a indicação de tempo decorrido, tempo passado, pode-se usar o verbo haver ou o verbo fazer, que, quando isso acontecer, serão verbos impessoais, ou seja, não terão sujeito, e deverão ser conjugados obrigatoriamente na terceira pessoa do singular.
Ao usar haver ou fazer, há de se eliminar a expressão “foram necessários”. O início da frase, então, ficaria assim: Fazia (ou Havia) duzentos anos que…
Por que fazia (ou havia), e não faz (ou há)? Porque não faz mais; porque a ação ficou no passado. Fazia duzentos anos naquela época, não hoje!
Continuando a frase: Fazia/Havia duzentos anos o quê? Que ocorriam as buscas. Pode-se transformar o substantivo “buscas” no verbo “buscar”. Para isso, é necessário dar um sujeito a ele. Quem buscava? A frase deixa bem claro que os portugueses é que buscavam. E eles buscavam o quê? O ouro de sua América. Montando a frase, haverá a seguinte estrutura:
Fazia/Havia duzentos anos que os portugueses buscavam o ouro de sua América…
Falta, agora, somente completar a frase com o verbo chegar, pois a frase original diz que os portugueses chegaram ao ouro de sua América. Ocorre, porém, que já utilizamos na frase a expressão “ouro de sua América”. Logicamente não a repetiremos, mas sim a substituiremos por um pronome. Os portugueses chegaram a quê? Ao ouro. Substitui-se, portanto, o substantivo ouro pelo pronome ele:
Fazia/Havia duzentos anos que os portugueses buscavam o ouro de sua América quando chegaram a ele.
Pronto. Está refeita a frase. Não quero dizer que esta ficou melhor que aquela, nem vice-versa, mas somente que é possível refazer qualquer estrutura frasal. Quando observar que a estrutura sintática não está adequada ou mesmo quando quiser efetivar mudanças na frase por qualquer motivo, basta-lhe observar a frase com bastante atenção, analisando o que pode ser mudado e usando os conhecimentos de sintaxe.
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