Li duas notícias concernentes a greves: uma de professores; outra de funcionários do Detran. Cada notícia foi veiculada em um canal de notícias diferente e de maneiras diferentes. Em um havia a seguinte frase:
“Sem pagamento, professores mantém greve”.
Noutro, esta:
“Funcionários do Detran mantêm greve”.
Nesta, a forma verbal tem acento circunflexo; naquela, agudo. Qual é o adequado? Vamos à explicação:
Os verbos ter e vir, no presente do indicativo, tempo verbal que se caracteriza por meio da frase Todos os dias…, na terceira pessoa do plural (eles), têm acento circunflexo para diferençar da terceira pessoa do singular (ele). Deve-se escrever, portanto, assim:
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– Ele não tem dinheiro para a cirurgia da esposa;
– Eles não têm dinheiro;
– Ela vem todos os dias aqui;
– Elas vêm de táxi.
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Esses verbos mantiveram o acento com a última reforma ortográfica, diferentemente do que ocorreu com os verbos crer, ler e ver, nos quais se duplica o “ee” e havia acento na terceira pessoa do plural do presente do indicativo, e com dar, no qual também se duplica o “ee” e havia acento na terceira pessoa do plural do presente do subjuntivo, tempo que se caracteriza pela frase “Espero que…”; esse acento foi extinto:
– Eles creem, leem, veem;
– Espero que eles deem.
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Com os verbos derivados de ter e de vir ocorre o seguinte: as formas verbais da segunda e da terceira pessoas do singular (tu e ele) do presente do indicativo são palavras oxítonas, ou seja, a última sílaba é a mais forte, e têm as terminações -ens e -em respectivamente.
As oxítonas terminadas em “-em” e “-ens” são acentuadas com acento agudo, portanto o adequado é assim:
– tu manténs, ele mantém;
– tu intervéns, ele intervém;
– tu deténs, ele detém;
– tu advéns, ele advém.
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A forma verbal da terceira pessoa do plural também tem de ser acentuada, pois é, da mesma maneira, uma oxítona terminada em “-em”. Ocorre, porém, que, se se seguir a regra, a terceira pessoa do singular e a terceira pessoa do plural terão a mesma forma verbal. Para diferençá-las, portanto, coloca-se acento circunflexo na terceira pessoa do plural:
– eles mantêm;
– eles intervêm;
– eles detêm;
– eles advêm.
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Das frases apresentadas no início do nosso texto, apenas uma está adequada:
– Funcionários do Detran mantêm greve.
A outra deve ser assim corrigida:
– Sem pagamento, professores mantêm greve.
Uma dúvida pode surgir: como saber se um verbo é derivado de ter e de vir? Simples: um verbo será derivado de outro quando tiver a mesma conjugação verbal. Por exemplo, o verbo ter, na primeira pessoa do singular (eu) do presente do indicativo, tem a seguinte forma verbal: tenho; e vir, venho. Todos os verbos que tiverem essas terminações serão derivados de “ter” e de “vir”:
– eu mantenho, detenho, retenho, entretenho, contenho;
– eu intervenho, advenho, convenho, provenho, etc.
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E os derivados de crer, dar, ler e ver? Com eles ocorre o mesmo, ou seja, os derivados são conjugados como os primitivos. Como os verbos primitivos perderam o acento, os derivados também o perderam:
– eles releem, anteveem, descreem; que eles desdeem.
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Já que tratamos de acentuação em formas verbais, seria interessante registrar dois acentos que passaram a existir opcionalmente no Português Brasileiro com a reforma ortográfica: os verbos terminados em “-ar”, conjugados no pretérito perfeito do indicativo (passado), na primeira pessoa do plural (nós), podem ser acentuados:
– Ontem falámos com ele. ou Ontem falamos com ele.
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E o verbo “dar”, na primeira pessoa do plural (nós) do presente do subjuntivo (Espero que…) também pode ser acentuado:
– Espero que no dêmos bem ou Espero que nos demos bem.
Acentuação nos verbos terminados em -guar, -quar, -guir, quir