O acordo ortográfico, que mudou a ortografia oficial da Língua Portuguesa, criou novas maneiras de se pronunciarem algumas palavras, principalmente a conjugação de alguns verbos. Vejamos uma das mudanças mais graves:
Os verbos terminados em –guar, –quar e –quir, como aguar, desaguar, enxaguar, minguar, adequar, obliquar (andar em direção oblíqua; proceder sem franqueza, dissimular), apropinquar (aproximar), alonginquar (afastar), antiquar e delinquir passaram a ter dois modelos de conjugação segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.
As denominadas formas rizotônicas (aquelas que têm a tonicidade dentro do radical (aquilo que sobra quando se retiram as terminações –ar, –er, –ir do verbo) que são as seguintes pessoas: eu, tu, ele e eles de dois tempos verbais: presente do indicativo (tempo que representamos pela frase “Todos os dias…”) e presente do subjuntivo (tempo que representamos pela frase “Espero que…”) – podem ser conjugadas com a tonicidade na sílaba anterior ao gu ou ao qu ou ainda com a tonicidade no u do gu ou do qu. Há então estas possibilidades nas formas rizotônicas:
Presente do indicativo:
Todos os dias eu águo,
Todos os dias tu águas
Todos os dias ele água
Todos os dias eles águam
Ou ainda
Todos os dias eu aguo (gu-o)
Todos os dias tu aguas (gu-as)
Todos os dias ele agua (gu-a)
Todos os dias eles aguam (gu-am)
Presente do subjuntivo:
Espero que eu águe
Espero que tu águes
Espero que ele águe
Espero que eles águem
Ou ainda
Espero que eu ague (gu-e)
Espero que tu agues (gu-es)
Espero que ele ague (gu-e)
Espero que eles aguem (gu-em)
Os demais tempos têm conjugação regular: eu aguei, ele aguou, eu aguava, nós aguávamos, eles aguarão, se tu aguasses, quando eles aguarem, etc.
Um detalhe que não pode passar despercebido: o trema não é mais usado nos grupos “que, qui, gue, gui”, por isso se escreve “aguei”, “que ele ague”, etc…
Com esse Acordo, então, podemos dizer as seguintes frases.
– Espero que você averígue os problemas causados pela chuva.
– Espero que você averigue (gu-e) os problemas causados pela chuva.
– Os jovens se delínquam mais que os adultos.
– Os jovens se delinquam (qu-am) mais que os adultos.
– Espero que não se mínguem nossos recursos.
– Espero que não se minguem (gu-em) nossos recursos.
Há um verbo que sofreu uma mudança extraordinária. O dicionário Houaiss, inclusive, não a registra, mas o Aurélio, sim. E o Dicionário Escolar da Língua Portuguesa, 2ª edição, da Academia Brasileira de Letras, trá-la muito bem explicada. Trata-se do verbo “arguir” (examinar questionando ou interrogando; contestar), e também de seu derivado “redarguir” (dar resposta, argumentando; apresentar réplica a algo). Eles passaram a ser conjugados como todos os verbos terminados em –uir. Ficou mais fácil conjugá-los. Observe:
– Ele possui muitos bens.
A pronúncia da forma verbal “possui” é por meio daquilo a que chamamos de ditongo decrescente: o u e o i fazem parte da mesma sílaba, e o u é pronunciado com mais força, como ocorre com “fui”.
– Ele argui seus alunos constantemente.
A pronúncia da forma verbal “argui” é a mesma de “possui”.
– Eles possuem – Eles arguem (gu-em)
– Eu possuí – Eu arguí (gu-í)
– Nós possuíamos – Nós arguíamos
– Se eu possuísse – Se eu arguísse (gu-í)
– Ele possuirá – Ele aguirá (gu-i)
– Nós possuímos – Nós arguímos (gu-í)
– Eles possuirão – Eles arguirão (gu-i).
Antes de terminar, repito: Alguns dicionários, como o Houaiss, não estão conformes o Acordo Ortográfico, por isso trazem formas diversas das apresentadas neste texto, que está adequado à Reforma Ortográfica.
A forma verbal apresentada no título do texto deve ser pronunciada, portanto, en-xa-gu-e, pois não há o acento em “xá”; se o houvesse a pronúncia seria “en-xá-gue”, obviamente com o u pronunciado:
– Enxágue (xá-gue) os cabelos!
– Enxague (gu-e) os cabelos!