Um desafio gramatical:
Todos os cidadãos estudiosos da Língua Portuguesa sabem que o pronome relativo “quem” jamais exercerá a função de sujeito. Como explicar, então, a adequação de frases como “Foi ele quem me falou de você”?
Vamos à explicação:
Além dos pronomes relativos “que, quem, qual, onde, quanto, cujo”, há os pronomes relativos indefinidos “onde” e “quem”, que são usados sem elemento antecedente.
O pronome relativo indefinido “quem” equivale a “a pessoa que / as pessoas que”; “onde”, a “o lugar em que”. Por exemplo:
– Não vi quem jogou as pedras.
Essa frase equivale a esta:
– Não vi a pessoa que jogou as pedras.
– Não sei onde minha carteira está.
Essa equivale a esta:
– Não sei o lugar em que minha carteira está.
Quando “quem” for pronome relativo indefinido poderá exercer a função de sujeito, como nos exemplos apresentados. E o verbo terá de ficar na terceira pessoa do singular, apesar de há muito existirem gramáticos que aceitem a concordância com o elemento anterior ao “quem”. Não há, porém, base sintática para essa concordância. Observe:
– Foram eles quem jogou a pedra.
Basta inverter as orações para perceber que o verbo tem de ficar no singular:
– Quem jogou as pedras foram eles.
– As pessoas que jogaram as pedras foram eles.
– Foram eles quem jogou as pedras.
– Foram eles as pessoas que jogaram as pedras.
Portanto, o pronome relativo “quem” não exercerá a função de sujeito quando houver elemento antecedente. Não se deve usar, por exemplo, “A pessoa quem me falou de você foi ele”, e sim “A pessoa que me falou de você foi ele”.
Quando, porém, for pronome relativo indefinido, poderá exercer a função de sujeito, e o verbo terá de ficar no singular, apesar de haver quem admita a concordância com o elemento anterior a ele:
– Foi ele quem me falou de você.
– Quem me falou de você foi ele.
Em ambos os períodos, “quem” é pronome relativo indefinido que exerce a função de sujeito de “falar”.