Esses dias, num jornal televisivo, o apresentador comunicou a morte do filho de um artista brasileiro e disse, no decorrer da notícia, a seguinte frase: “Ele estava internado há uma semana”. Esse uso do verbo haver, bastante comum em nosso país, inclusive nos meios mais cultos, está inadequado à língua-padrão. Vejamos por quê:
Os verbos haver e fazer podem indicar tempo decorrido. Quando isso ocorrer, têm de ficar na terceira pessoa do singular. O adequado, então, é dizer o seguinte:
– Faz cinco anos que não o vejo.
– Há cinco anos não o vejo.
– Amanhã fará dois meses que ele viajou.
– Amanhã haverá dois meses que ele viajou.
A utilização do tempo verbal depende de quando ocorra a ação. Nos dois primeiros exemplos dados, usou-se o presente do indicativo porque agora faz cinco anos. Nos dois últimos exemplos, usou-se o futuro do presente do indicativo porque ainda não se completaram dois meses; amanhã é que isso ocorrerá.
Na frase dita pelo apresentador do jornal há a inadequação porque o jovem não estava mais internado, pois já havia falecido. Para se usar haver – ou fazer – no presente do indicativo, ele ainda teria de estar internado; a ação, porém, já se encontrava no passado. O tempo a ser utilizado é o pretérito imperfeito do indicativo: havia ou fazia:
– Ele estava internado havia uma semana.
– Ele estava internado fazia uma semana.
Observe as seguintes frases:
– Eu estava lá há três anos.
– Eu estava lá havia três anos”.
Qual a diferença de sentido?
No primeiro exemplo, a contar de hoje, eu estava lá há três anos, ou seja, em maio de 2011, pois escrevi esta coluna em maio de 2014; se estava antes ou depois disso não está claro.
No segundo exemplo, a contar de uma data passada, havia três anos, ou seja, durante três anos estive lá. Por exemplo, estive lá de janeiro de 2011 a janeiro de 2014, e o assunto trata deste mês – jan/2014.
Se, porém, o assunto fosse jan/2014, e eu não tivesse ficado lá três anos, mas apenas em janeiro de 2011, a frase teria de ser assim escrita:
– Estive lá havia três anos.
Em todos os exemplos, pode-se usar o verbo fazer:
– Eu estava lá faz três anos.
– Eu estava lá fazia três anos.
– Estive lá fazia três anos.
O Londrina Esporte Clube havia sido tricampeão paranaense em 1992; 22 anos depois, em abril de 2014, conquistou o tetracampeonato. Como já estávamos em maio quando escrevi este texto, a ação já era passada. É inadequado, portanto, o que um radialista disse dias atrás:
– Há 22 anos que o Londrina não conquistava o campeonato paranaense.
O adequado ao padrão culto da língua é o uso do verbo haver ou fazer no pretérito imperfeito do indicativo:
– Havia 22 anos que o Londrina não conquistava o campeonato paranaense.
– Fazia 22 anos que o Londrina não conquistava o campeonato paranaense.