É muito comum os estudantes do Ensino Médio julgarem que as preposições a e para têm os mesmos usos já que em alguns casos isso é verdadeiro, como em comprar algo a alguém ou comprar algo para alguém. Isso, porém, não ocorre com muitos verbos; a maioria, aliás, que exige a preposição a não admite a preposição para.
É o que ocorre, por exemplo, com os verbos pagar, perdoar e agradecer: esses três verbos devem ser usados sem preposição quando o complemento for algo:
– Pagar uma dívida.
– Pagar um carro.
– Perdoar os pecados.
– Perdoar uma falha.
– Agradecer o convite.
– Agradecer um presente.
Devem ser usados com a preposição a, não com a preposição para quando o complemento for uma pessoa, física ou jurídica:
– Pagar ao advogado.
– Pagar ao colégio.
– Perdoar ao amigo.
– Perdoar ao pecador.
– Agradecer aos amigos.
– Agradecer a Deus.
No Português brasileiro, porém, é muito comum a ausência da preposição mesmo em autores renomados como Machado de Assis.
Outros verbos têm o mesmo comportamento:
– Faltar: Falta a algumas pessoas discernimento.
– Custar, no sentido de ser difícil: Custou a mim acreditar nele.
Esses verbos não admitem o uso da preposição para.
Observe, também, o uso do pronome mim nessa última frase:
– Custou a mim acreditar nele.
Aparentemente está inadequado, mas não está. Não se deve usar o pronome eu por não ser o sujeito do verbo acreditar, mas sim o complemento do verbo custar. Observe:
– Que é que custou? Acreditar nele. Esse é o sujeito do verbo custar; uma oração que funciona como sujeito denominada oração subordinada substantiva subjetiva.
– Acreditar nele custou a quem?: A mim, e não “a eu”! Mim é o complemento denominado de objeto indireto já que o verbo custar é transitivo indireto – Aquilo que custa, custa a alguém.
Nenhum desses verbos admite a preposição para. Os verbos – com algumas exceções – que exigem a preposição a podem ter como complemento, no lugar do substantivo, os pronomes lhe e lhes. É o que ocorre com todos os verbos apresentados:
– Pagar-lhe.
– Perdoar-lhe.
– Agradecer-lhe.
– Faltar-lhe.
– Custar-lhe.
Alguns, como assistir no sentido de ver e aspirar e visar no sentido de almejar, objetivar, mesmo exigindo a preposição a, não admitem o uso de lhe, lhes. É inadequado, portanto, dizer “Ao filme, assisti-lhe”; o certo é Ao filme, assisti a ele. Da mesma forma, deve-se dizer À vaga, aspiro a ela e A um futuro brilhante, viso a ele, sem o uso de lhe.
Há alguns verbos indicadores de destino, que, mesmo não exigindo complemento, devem ser usados com a preposição a diante do lugar. São eles: ir, vir, voltar, chegar, cair, comparecer, dirigir-se…:
– Vou ao cinema todas as semanas.
– Venha a Londrina, visitar-nos.
– Voltarei ao clube.
– Cheguei a casa.
– Caí ao chão.
– Compareça à diretoria.
– Dirija-se ao meu consultório.
A frase Cheguei a casa, com a sem o acento indicador de crase, é o que preceitua a gramática padrão; no Brasil, no entanto, só se usa, inadequadamente, “Cheguei em casa”.
Todos esses verbos exigem a preposição a na indicação de destino. Há, porém, um uso adequado para a preposição para na indicação de destino: quando houver a indicação de mudança definitiva.
– Irei a São Paulo, então, significa que irei lá, mas voltarei.
– Irei para São Paulo significa que me mudarei para São Paulo.
Claro está, portanto, que a frase “Vou para casa”, que usamos diariamente, é inadequada ao padrão culto da língua.