O verbo haver – Gramática On-line

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20 de novembro de 2018
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O verbo haver

O verbo haver é conjugado em todos os tempos e modos como qualquer outro verbo. É, porém, pouquissimamente utilizado em todos os tempos e modos. Isso acontece porque, no Brasil, não o usamos habitualmente em todos os seus significados. Por exemplo, haver, quando for pronominal (haver-se), significará, dentre outros, proceder socialmente, conduzir-se, comportar-se. No entanto são raríssimas as pessoas que dizem frases como a seguinte:

 

Os jovens de hoje não se hão como os de antigamente, querendo dizer que os jovens não se comportam como os de antigamente. Caiu em desuso tal verbo. Veja outros significados de haver:

Julgar: Ele houve que fora traído pelo amigo.

Conseguir, obter: Os alunos houveram do professor o adiamento da prova.

Sentir: Houvemos uma alegria imensa naquele dia.

 

O verbo haver é, porém, mais utilizado hoje em duas ocorrências: como auxiliar de locução verbal e como verbo impessoal:

 

1) Como auxiliar de locução verbal:

 

a) Junto a particípio (verbo terminado em –ado ou em –ido) de outro verbo forma o que chamamos de tempo verbal composto. Neste caso tem o mesmo valor do verbo ter, que é, inclusive, mais usado por nós, brasileiros.

 

– Ele tinha pedido demissão. = Ele havia pedido demissão.

– Se ele tivesse pedido demissão… = Se ele houvesse pedido demissão….

– Espero que ele tenha trazido os documentos. = Espero que ele haja trazido os documentos.

 

Observe que, nos dois últimos exemplos, o verbo ter é mais familiar a nós que o verbo haver.

 

b) Junto a verbo no infinitivo (terminado em –ar, -er, -ir) precedido da preposição de:

 

– Ele há de aceitar a situação.

– Havemos de conseguir nosso intento.

 

2) Como verbo impessoal:

O verbo haver será impessoal quando significar existir ou acontecer ou ainda quando indicar tempo decorrido.

 

Quando haver for impessoal, deverá ser conjugado na terceira pessoa do singular obrigatoriamente. Isso se explica pelo fato de verbo impessoal não possuir sujeito. Se não há sujeito, não há com quem concordar.

 

Veja exemplos:

 

Haver = existir

 

Haverá deuses enquanto alguém acreditar neles. = Existirão deuses enquanto alguém acreditar neles.

 

Haver = acontecer

 

Sempre houve muitas festas em minha casa. = Sempre aconteceram muitas festas em minha casa.

 

Haver indicando tempo decorrido

 

Ao indicar tempo decorrido, haver equivale a fazer:

 

Há mais de trinta anos conheci Teté. = Conheci Teté faz mais de trinta anos.

 

Sintaticamente, há algumas observações a fazer:

 

Os verbos substituídos por haver (existir e acontecer) têm sujeito. Haver não o tem, por ser impessoal.

Tais verbos (existir e acontecer) são verbos intransitivos. Haver é transitivo direto.

O elemento que parece ser sujeito de haver é, na realidade, o seu objeto direto.

 

Analisemos, então, as seguintes frases:

 

Existirão deuses enquanto alguém acreditar neles.

 

O princípio é o verbo. Há dois: existir e acreditar. Analisaremos apenas existir.

Pergunta-se a ele quem é o sujeito: Quem é que existirá? Resposta: deuses. O sujeito é determinado, já que está explícito. É simples por ter um núcleo só.

Sujeito simples: deuses.

Analisa-se a predicação verbal: quem existe, existe. Existir, portanto, é verbo intransitivo.

 

Haverá deuses enquanto alguém acreditar neles.

 

O princípio é o verbo. Há dois: haver e acreditar. Analisaremos apenas haver.

Pergunta-se a ele quem é o sujeito: Quem é que haverá? Resposta: deuses.

Sabemos, porém, que, quando haver significar existir, será verbo impessoal e que aquilo que parece ser seu sujeito é, na realidade, seu objeto direto, uma vez que haver é verbo transitivo direto. A análise adequada da oração é, portanto, a seguinte:

 

Haver = verbo impessoal e transitivo direto;

Oração sem sujeito ou sujeito inexistente;

Objeto direto = deuses.

 

É muito comum, no Brasil, o uso de haver como sinônimo de ter. Isso só é possível, de acordo com a Gramática padrão, se ambos forem auxiliares de locução verbal, como já vimos. Se haver for verbo pleno, ou principal, não pode ser substituído pelo verbo ter, apesar de ser muito comum na linguagem cotidiana.

No dia a dia os brasileiros os usam como sinônimos, mas em documentos oficiais e na linguagem culta, ter deve ser evitado como sinônimo de haver se for verbo pleno. Ter significa possuir, mas não significa existir. Veja um exemplo:

 

Este país tem muitos políticos corruptos.

Neste país, há muitos políticos corruptos.

 

Na primeira oração o verbo ter indica posse: o país possui muitos corruptos.

Já na segunda oração não há indicação de posse, e sim de existência: no país, existem muitos corruptos. Nela, portanto, segundo a norma padrão, não se pode usar o verbo ter.

 

Só mais uma pergunta? Que pronome usar com o verbo haver impessoal? Vejamos isso:

É sabido que haver impessoal não tem sujeito e que o termo que parece ser seu sujeito é de fato seu objeto direto já que ele é verbo transitivo direto. Os pronomes de terceira pessoa que funcionam como objeto direto são o, a, os, as, e não ele, ela, eles, elas, que funcionam como sujeito. Observe, então, as seguintes orações:

 

Existem políticos honestos? Sim. Eles existem.

Usou-se o pronome eles porque o verbo existir exige sujeito.

 

– Há políticos honestos? Sim. Há-os.

Usou-se o pronome os porque o verbo haver não tem sujeito, e sim objeto direto.