“Oh! Jardineira, por que estás tão triste? / Mas o que foi que te aconteceu? / Foi a camélia que caiu do galho, / Deu dois suspiros e depois morreu. / Vem, jardineira! Vem, meu amor! / Não fiques triste que este mundo é todo teu. / Tu és muito mais bonita / Que a camélia que morreu.”
Quero ocupar-me, concernentemente a essa letra, do modo verbal a que chamamos de imperativo, que é o uso do verbo para ordem, pedido, conselho ou apelo. Há regras específicas para o uso desse modo verbal, que dependem de como o interlocutor seja tratado. Vejamo-las:
Se a ordem – ou pedido, conselho, apelo – for emitida a um interlocutor apenas, é preciso analisar se este é tratado por “tu” ou por “você”. Caso seja tratado por “tu”, forma-se o imperativo a partir da frase “Todos os dias, tu…”, retirando-se a letra “s” da estrutura verbal. Caso seja tratado por “você”, a partir da frase “Espero que você…”. Peguemos como exemplo, o verbo “falar”:
Se o interlocutor for tratado por “tu”, forma-se o imperativo a partir da frase “Todos os dias tu falas”, retirando-se a letra “s” da estrutura verbal, o que resulta a forma “fala”. Este é o imperativo do verbo “falar” para “tu”:
– Fala a verdade que tu serás recompensado.
O mesmo acontece se os interlocutores forem tratados por “vós”, o que é raro: “Todos os dias vós falais”, retirando-se a letra “s”: “falai”:
– Falai a verdade que vós sereis recompensados.
Se o interlocutor for tratado por “você”, forma-se o imperativo a partir da frase “Espero que você fale”. Este é o imperativo do verbo “falar” para “você”:
– Fale a verdade que você será recompensado.
O mesmo acontece se os interlocutores forem tratados por “nós” ou por “vocês”: “Espero que nós falemos”; “Espero que vocês falem”. Esses são os imperativos do verbo “falar” para “nós” e para “vocês”:
– Falemos a verdade que nós seremos recompensados.
– Falem a verdade que vocês serão recompensados.
Observe que os autores, Benedito Lacerda e Humberto Porto, fazem um pedido à jardineira: “Vem, jardineira! Vem, meu amor!”. Eles a tratam pelo pronome “tu”, o que é facilmente percebido pelo uso do verbo “estar”: “… por que estás tão triste…”. O imperativo, portanto, será formado a partir da frase “Todos os dias tu vens”, retirando-se a letra “s” e substituindo-se o “n” por “m”: “vem”. A forma verbal usada por eles está, portanto, adequada. Aliás, toda a composição está adequada gramaticalmente.
Caso a jardineira fosse tratada por “você”, o imperativo seria formado a partir da frase “Espero que você venha”:
Oh! Jardineira, por que está tão triste? / Mas o que foi que lhe aconteceu? / Foi a camélia que caiu do galho, / Deu dois suspiros e depois morreu. / Venha, jardineira! Venha, meu amor! / Não fique triste que este mundo é todo seu. / Você é muito mais bonita / Que a camélia que morreu.”