O Brasil tem hoje um grande exército de jovens na faixa
etária de 15 a 24 anos aguardando uma possibilidade de
apresentar ao mercado de trabalho o seu potencial. O maior
drama deste exercito juvenil é a ausência de vagas
oferecidas àqueles que procuram o seu primeiro emprego.
Nos últimos dez anos, o país criou apenas 100 mil postos de
trabalho para pessoas na faixa etária de 15 a 24 anos,
enquanto 2,8 milhões de jovens ingressaram no mercado de
trabalho. Poucos são os cursos universitários no país que
oferecem disputa tão acentuada como atualmente ocorre no
mercado de trabalho, que tem 28 jovens concorrendo, em
média, a cada vaga aberta. O aprofundamento da competição
no interior do mercado de trabalho decorre também do
fechamento de empregos tradicionalmente ocupados pelos
jovens. Dos 3,2 milhões de empregos formais destruídos na
década de 1990, 2 milhões atingiram o segmento com menos de
25 anos de idade.
Além disso, parte das vagas oferecidas aos jovens são
ocupadas por adultos, já que o desemprego também afeta
gravemente os chefes de família, que, desesperados, aceitam
qualquer coisa. Paralelamente, a pouca experiência
profissional, a baixa escolaridade e os traços de menor
responsabilidade fazem parte das razões usadas por patrões
e de até especialistas para explicar o desemprego juvenil,
sem que estejam em consonância com a realidade do mercado
de trabalho.
Ao contrário do senso comum, a maior geração de vagas tem
ocorrido nos postos de trabalho mais simples, não exigindo,
necessariamente, maior grau de profissionalização. São os
casos das ocupações de emprego doméstico, de limpeza e
conservação e de segurança privada e pública, que foram as
que mais cresceram nos anos 90.
Ao mesmo tempo, ganha importância a defesa do
individualismo, por meio da promoção da cultura da auto-
ajuda. Isto é, a transferência do problema do desemprego ao
próprio jovem que, na condição de sem emprego, precisa
fazer curso disso, daquilo e muito mais, sem falar nas
falsas dicas de como realizar um currículo “esperto”, como
responder “inteligentemente” a questões nas entrevistas
etc. Como se bastasse ter conhecimento para que o emprego
surgisse.
Apesar de tudo isso, há saídas para os jovens que não sejam
o desespero do desemprego, a violência da criminalidade, a
degradação da prostituição e a fuga pelas drogas. Por não
haver alternativas individuais para todos, apenas para
alguns, o país precisa de um projeto nacional de
desenvolvimento que viabilize o crescimento econômico em
mais de 5,5% ao ano e por toda uma década.
Ademais, dois programas nacionais devem ser constituídos. O
primeiro diz respeito à manutenção do jovem por mais tempo
na escola, fazendo com que ingresse mais tardiamente no
mercado de trabalho. A melhora na educação nacional é
necessária, assim como a difusão de medidas de
transferência de renda para as famílias carentes com vistas
a financiar o tempo do jovem na escola, por meio de
programas de renda mínima, bolsa escolas, entre outros.
O segundo programa deve conter uma estratégia
especificamente voltada à abertura de vagas aos jovens no
mercado de trabalho. O estímulo à criação de postos de
trabalho subsidiados no setor privado e de programas de
utilidade coletiva no setor público contribui para a
geração de maiores e melhores saídas aos jovens.
Análise
por Dílson Catarino.
O título – Há saídas para os jovens – apresenta o objetivo final do autor: apresentar soluções para algum problema relacionado aos jovens. Sempre que se produz um texto dissertativo, o primeiro passo é estabelecer o objetivo final do trabalho, pois, senão, pode-se elaborar um texto vazio, cheio de argumentações desconexas, sem conclusão. Marcio Poschmann dá a ‘dica’ no título: seu objetivo será mostrar aos jovens que há maneiras de sanar determinado problema. Talvez a única falha desse título seja não apresentar o problema, já que há saídas para os jovens em vários aspectos.
No parágrafo introdutório, o autor ‘apresenta’ a questão que será objeto da discussão, demonstrando, por números, o problema enfrentado pelos jovens. Essa é uma das maneiras mais seguras de se elaborar a introdução de uma dissertação. A apresentação do que será discutido no desenvolvimento por informações precisas acarreta maior credibilidade ao texto, pois o autor demonstra conhecimento do assunto. Marcio Pochmann expõe claramente o problema, não suscitando dúvidas quanto à sua gravidade.
No primeiro parágrafo do desenvolvimento, o autor discute algumas causas do desemprego juvenil, antecipando as soluções que serão apresentadas por ele. Isso, no início do desenvolvimento, envolve o leitor, pois provoca a curiosidade deste quanto ao fechamento do raciocínio daquele. No texto analisado, perceba o raciocínio: se o problema é o desespero do chefe de família, então há de se oferecer a ele uma vida melhor, a fim de ele não precisar ‘roubar’ o emprego do jovem; se o problema é a pouca experiência profissional, então há de se preparar melhor o jovem com cursos profissionalizantes; se o problema é a baixa escolaridade e a menor responsabilidade, então há de se deixar o jovem mais anos na escola, para que, ao sair à procura de emprego, tenha mais escolaridade, mais experiência, mais responsabilidade. O aspecto negativo desse parágrafo está na concordância verbal da frase ‘… Parte das vagas oferecidas aos jovens são ocupadas por adultos…’, quando o adequado seria ‘… Parte das vagas oferecidas aos jovens é ocupada por adultos…’ já que apenas parte das vagas é ocupada, e não todas elas.
No segundo parágrafo do desenvolvimento, o autor aprofunda a discussão em torno do que fora apresentado no parágrafo anterior, em que apenas há a citação das causas, sem investigá-las a fundo. Agora, ele analisa o aspecto negativo da crença em que se garante o emprego se o jovem se preparar adequadamente para ele, o que não é real. Ainda nesse parágrafo, o autor começa a apresentar as soluções pensadas por ele como objetivo final de seu texto: um projeto nacional de desenvolvimento que viabilize o crescimento econômico em mais de 5,5% ao ano. Perceba que, se isso ocorrer, o chefe de família não enfrentará o desemprego e, conseqüentemente, não concorrerá com o jovem.
Na conclusão, Marcio Pochmann apresenta o restante das soluções: lugar de jovem é na escola, e não trabalhando, mas, para isso, a família deve ter renda mínima suficiente para não necessitar do trabalho do jovem, seja com salários melhores aos adultos ou com bolsa de estudos aos jovens. Outra solução é a abertura de mais vagas aos jovens no mercado de trabalho. São soluções difíceis de acontecer, pois não necessitam apenas da boa vontade de um governante, mas sim de uma mudança muito grande do país inteiro. São difíceis, mas não impossíveis.
Marcio Pochmann trabalhou esse texto tecnicamente muito bem, usando um método teoricamente fácil de se elaborar uma dissertação: na introdução trabalhou com a apresentação do problema, no desenvolvimento argumentou sobre o problema, apresentando alguma das principais causas que levam o jovem ao desemprego e na conclusão trabalhou com o método a que chamamos de perspectiva, ou seja, o método de buscar soluções para determinados problemas, apesar de ter apresentado soluções utópicas, em se tratando de Brasil.
Cabe a você, agora, produzir um texto usando esse método. Escolha um problema qualquer do nosso país (há tantos!), introduza o texto com a apresentação do problema, usando, de prefência, informações verídicas, com comprovações, argumente no desenvolvimento com as causas desse problema e conclua o texto com as possíveis soluções.