Crase – Gramática On-line

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Adjuntos e orações adverbiais
20 de junho de 2018

Crase

A palavra crase provém do grego (krâsis) e significa mistura. Na língua portuguesa, crase é a fusão de duas vogais idênticas, mas essa denominação visa a especificar principalmente a contração ou fusão da preposição a com os artigos definidos femininos a, as ou com os pronomes demonstrativos a, as, aquele, aquela, aquilo.

a + a = à

a + as = às

No a + aquele(s) = àquele(s)

a + aquela(s) = àquela(s)

a + aquilo = àquilo


Para saber se ocorre ou não a crase, basta seguir três regras básicas:

01)    Só ocorre crase diante de palavras femininas.

 

– O sol estava a pino. Sem crase, pois pino não é palavra feminina não genérica

– Ela recorreu a mim. Sem crase, pois mim não admite artigo feminino.

– Estou disposto a ajudar você. Sem crase, pois ajudar não é palavra feminina; é verbo.


02)    Se a preposição a for exigida por uma palavra que indica destino (ir, vir, voltar, chegar, cair, comparecer, dirigir-se, ida, vinda, chegada, etc.), substitua-a por outra que indique procedência (vir, voltar, chegar…); se, diante da que indicar procedência, surgir da, diante da que indicar destino, ocorrerá crase; caso contrário, não ocorrerá crase. Essa substituição serve para demonstrar a existência da preposição e do artigo, cuja junção exige o acento indicador de crase.

venho de = vou a

venho da = vou à

– Vou a Porto Alegre. Sem crase, pois Venho de Porto Alegre.

– Vou à Bahia. Com crase, pois Venho da Bahia.

– A ida à fazenda foi tranquila, mas a volta à cidade foi um caos. (Voltei da fazenda; voltei da cidade)


03) Se não houver palavra indicando destino, substitua a palavra feminina por outra masculina; se, diante da masculina, surgir ao, diante da feminina, ocorrerá crase; caso contrário, não ocorrerá crase. Essa substituição serve para demonstrar a existência da preposição e do artigo, cuja junção exige o acento indicador de crase.

– Assisti à peça. Com crase, pois Assisti ao filme.

– Paguei à cabeleireira. Com crase, pois Paguei ao cabeleireiro.

– Respeito as regras. Sem crase, pois Respeito os regulamentos.


Casos especiais:

01) Nas expressões adverbiais à moda de e à maneira de, mesmo que as palavras moda e maneira fiquem subentendidas, ocorre crase.

– Fizemos um churrasco à gaúcha. (À moda gaúcha; à moda dos gaúchos)

– Comemos bife à milanesa e espaguete à bolonhesa. (À moda milanesa e à moda bolonhesa; à moda de Milão e à moda de Borgonha)

– Joãozinho usa cabelos à Príncipe Valente. (À moda do Príncipe Valente)


02) Nos adjuntos adverbiais de modo, lugar e tempo femininos, ocorre crase.

à tarde, à noite, às pressas, às escondidas, às escuras, às tontas, à direita, à esquerda, à vontade, à revelia …

– Encontrei Tiago ontem à noite.

– Saí às pressas de casa.


03) Nas locuções prepositivas e conjuntivas femininas ocorre crase.

Locução prepositiva feminina é a junção de a + substantivo feminino + de sem que o substantivo feminino exerça a função de sujeito nem de objeto direto;

Locução conjuntiva feminina é a junção de a + substantivo feminino + que sem que o substantivo feminino exerça a função de sujeito nem de objeto direto.

à maneira de, à moda de, à custa de, à procura de, à espera de, à medida que, à proporção que…

– Ele está à procura da esposa.

– À proporção que o tempo passa, mais sábios ficamos.


04) Na locução adverbial a distância, modernamente o acento indicador de crase passou a ser opcional. Se, porém, houver a locução prepositiva à distância de o acento passa a ser obrigatório.

– Reconheci-o a distância.

– Convém mantê-los à distância.

– Reconheci-o à distância de duzentos metros.

– Convém mantê-los à distância de alguns metros da piscina.


05) Diante do pronome relativo que ou da preposição de, quando for fusão da preposição com o pronome demonstrativo a, as, que pode ser substituído por aquela, aquelas, ocorre crase:

– Essa roupa é igual à que comprei ontem.  (a + aquela)

– Sua voz é igual à de um primo meu. (a + aquela)


06) Diante dos pronomes demonstrativos este(s), esta(s), isto, esse(s), essa(s), isso não ocorre crase, mas diante de aquele(s), aquela(s), aquilo, sim, se houver a preposição a.

– Não assisti a essa série, mas àquela da garota… (a + aquela)

– Obedeça àqueles que lhe são superiores. (a + aqueles)


07) Diante dos pronomes relativos a qual, as quais, quando o verbo da oração subordinada adjetiva (o que vem logo depois de a qual, as quais) exigir a preposição a, ocorre crase.

– A cena à qual assisti foi chocante. (Quem assiste, assiste a algo)


08) Quando o a estiver no singular, diante de uma palavra no plural, não ocorre crase, pois falta-lhe o artigo.

– Referi-me a todas as alunas, sem exceção.

– Não gosto de ir a festas desacompanhado.


09) Nos adjuntos adverbiais de meio ou de instrumento, não há consenso entre os gramáticos. Uns dizem que deve ocorrer crase; outros, que não. Modernamente ambas as opiniões são aceitas.

– Preencheu o formulário a caneta.

– Matou o desafeto a faca.

– Pagou o automóvel à vista. 


 10) Diante de pronomes possessivos femininos, é facultativo o uso do artigo se o pronome acompanhar substantivo, então, quando houver a preposição a, será facultativa a ocorrência de crase.

– Referi-me a sua professora.

– Referi-me à sua professora.

Obs.: Caso o pronome possessivo não acompanhe substantivo, mas o substitua, o artigo será obrigatório; se, então, houver a preposição a, o acento indicador de crase também será obrigatório.

– Não me referi a sua esposa, e sim à minha.

– Não me referi à sua esposa, e sim à minha.


11) Após a preposição até, é facultativo o uso da preposição a, portanto será facultativo o uso do acento indicador de crase se houver substantivo feminino à frente.

A preposição “até” tem o sentido de “limite de tempo ou de lugar”.

Se, porém, “até” for advérbio, terá o sentido de “inclusive” ou de “no máximo”, e não poderá ser seguido da preposição “a”. Por exemplo:

– Fui até a secretaria.

– Fui até à secretaria.

Nessas frases, há a indicação de limite de lugar. A preposição, então, é facultativa. Como o artigo “a”, o acento indicador de crase é facultativo.

– Faminto, ele come até pedra. (Inclusive)

– Coloque até cinco colheres de açúcar. (no máximo)

Observe este exemplo:

– Aparamos a grama até o jardim frontal.

Nessa frase, não é possível saber se “até” é preposição (limite de espaço) ou advérbio (inclusive).

Se for preposição, é recomendável o uso da preposição para evitar ambiguidade:

– Aparamos a grama até ao jardim frontal. (Limite de lugar. Não se aparou a grama do jardim frontal)

– Aparamos a grama até o jardim frontal. (Inclusive a grama do jardim frontal foi aparada)


12) A palavra CASA:

Diante da palavra casa não haverá artigo quando significar ‘moradia, lar’ e não estiver especificada. Consequentemente, não haverá crase nesse caso:

– Cheguei a casa antes do restante da família. 

Se a palavra casa estiver especificada, será determinada pelo artigo “a”. Se houver a preposição “a”, ocorrerá crase:

– Cheguei à casa de Ronaldo antes de todos.

Se a palavra casa não estiver especificada, mas significar a construção, o prédio, será determinada pelo artigo ”a”. Se houver a preposição “a”, ocorrerá crase:

– Saímos da casa e fomos até o lago. (…) Quando voltamos à casa, ela estava todo bagunçada.


13) A palavra TERRA:

– Significando planeta, é substantivo próprio e tem artigo, consequentemente, quando houver a preposição a, ocorrerá a crase.

– Os astronautas voltaram à Terra.

Não ocorre crase em oposição a bordo, ou, como registra Napoleão Mendes de Almeida, em sua Gramática Metódica da Língua Portuguesa, “caso de supressão do artigo se dá com a palavra terra na acepção de chão firme, empregada para contrastar com o elemento movediço do mar: ‘Estive em terra’ – ‘Iremos por terra’.”

– Os marinheiros voltaram a terra.

– Se o vocábulo terra vier seguido de uma especificação, será determinado por artigo. Consequentemente, se for regido por termo que exija a preposição a, ocorrerá crase

– Irei à terra de meus avós.

– No sentido de “área ou região não especificada; local, região, território” não se usa o artigo.

– Não quero viver em terra estranha.

 – Esta cidade é terra de ninguém.

Observe este trecho de Saramago na obra Levantado do chão:

“Não é coelho ou ginete para apodrecer ao sol, mas imaginando que a fome, ou o frio, ou o calor o deitem a terra onde não deram por ele, ou uma doença daquelas que não dão sequer o tempo de pensar nisso, menos ainda de chamar alguém, mesmo tarde hão de achar.”

Ele não usou o acento indicador de crase em “… o deitem a terra onde não deram por ele”, por “terra” ter o sentido de “área ou região não especificada”.

Comprova-se a ausência do artigo, substituindo-se a preposição “a” por “em”: “… o deitem em terra onde não deram por ele”



Segundo o dicionário Houaiss, o vocábulo “terra” será determinado por artigo, e consequentemente pode ocorrer crase, com os seguintes sentidos:

1 Superfície sólida da crosta terrestre onde pisamos, construímos, etc.:

O papa ajoelhou-se para beijar a terra. Quando seus lábios chegaram à terra, teve uma síncope.

2 Torrão natal; pátria:

Voltou à terra anos depois.

3 Porção de terreno que pertence a alguém; domínio, propriedade, fazenda, herdade:

Emocionava-se quando se referia à terra.

4 Espaço onde se enterram os mortos; cemitério, sepultura, cova:

Dar um corpo à terra.

5 Quando nominar o nosso planeta (inicial maiúscula”):

Os astronautas chegaram à Terra.


14) Nomes de pessoas: Diante de nome de pessoas, usa-se artigo para indicar afetividade ou familiaridade, podendo, no entanto ser omitido. Nessa indicação, portanto, o acento indicador de crase também será opcional.

Caso não haja a indicação de familiaridade, não ocorrerá crase.

– Referi-me a Tarsila do Amaral, importante artista brasileira.

– Referi-me à Bruna, namorada de meu irmão.

– Referi-me a Bruna, namorada de meu irmão.


15) Ambiguidade: Em alguns casos, deve-se usar o acento indicador de crase para evitar ambiguidade. Por exemplo:

– Matar a fome. (= comer) / Matar à fome. (= deixar à míngua)

– Bater a porta. (fechar a porta com violência) / Bater à porta. (= anunciar-se)

– Cheirava a rosa. (sentia o cheiro da rosa) / Cheirava à rosa. (= exalava o cheiro de rosa)


16) Combinação de “de … a” e “da … à”: Em combinações da preposição de com a preposição a, ou haverá artigo com ambos ou com nenhum. Por exemplo:

– Estarei lá das 14h às 16h. (Ambas as preposições se contraem com artigos: de + as = das; a + as = às)

– Estarei lá de 14h a 16h. (Nenhuma preposição se contrai com artigo)

– De segunda a quarta, estaremos fechado. (Nenhuma preposição se contrai com artigo)

– De 10 a 14 de abril… (Nenhuma preposição se contrai com artigo)


17) Palavras masculinas: Não há crase diante de palavras masculinas.

– O sol estava a pino.


18) Verbos: Não há crase diante de verbos.

– A partir de amanhã, atenderemos em novo horário.


19) Horas: Haverá crase diante de horas se houver a preposição “a” e a hora for feminina. Caso haja outra preposição, que não “a“, como desde e após, não ocorrerá a crase. Havendo a preposição até, o acento indicador de crase será facultativo.

– Cheguei às 14h.

– Estou aqui desde as 14h.

– Chegarei após as 14h.

– Ficarei até as 14h.

– Ficarei até às 14h.


20) Palavras iguais: Entre palavras iguais não há crase.

lado a lado, cara a cara, dia a dia, gota a gota


21) Pronomes de tratamento, pessoais, quem e cujo:

Diante dos pronomes de tratamento iniciados por Vossa… e por Sua… e diante de você, não ocorre crase:

– Não me referi a Vossa Excelência, caro governador, mas a Sua Excelência, o prefeito da capital.

Diante dos pronomes pessoais – mim, ti, si, ele, ela, nós, vós, eles, elas – não há crase:

– Dirigiu-se a mim desrespeitosamente.

Diante de quem e de cujo, cuja, cujos, cujas não ocorre crase:

– A pessoa a quem me referi era ela.

– O aluno a cujo pai me referi era ele.