Toda prisão é desonrosa – Gramática On-line

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Algumas regras de crase
6 de novembro de 2017

Toda prisão é desonrosa

Segundo um grande jornal brasileiro, o ex-deputado Roberto Jefferson disse sobre a prisão do deputado licenciado José Genoino a seguinte frase: “Toda a prisão é desonrosa”, com o artigo a.

 

Desconsiderando a celeuma acerca da prisão dos “mensaleiros” e de quando de fato os envolvidos comprometeram sua honra, analisemos o que interessa a esta coluna: gramática da Língua Portuguesa. O vocábulo “todo” pode se classificar como adjetivo, pronome ou substantivo.

Como substantivo, significa, segundo o dicionário Houaiss, “coisa completa, conjunto, ser, totalidade”. Sendo substantivo, tem de ser antecedido de artigo: “o todo”. Veja, como exemplo, estes versos de Gregório de Matos Guerra, poeta brasileiro do período literário denominado de Barroco cujo apelido era “Boca do Inferno”, em virtude de suas sátiras contra todas as camadas sociais baianas do séc. XVII. O soneto teve como mote o braço de uma estátua, supostamente do Menino Jesus, encontrado por ele caído ao chão:

 

O todo sem a parte não é todo

a parte sem o todo não é parte

mas se a parte o faz todo sendo parte

não se diga que é parte sendo todo”.

 

Como pronome adjetivo indefinido, significa, também segundo o dicionário Houaiss, “qualquer, seja qual for, cada”. Pronome adjetivo é a denominação dada ao pronome que acompanha substantivo; pronome indefinido é aquele que se refere à terceira pessoa de modo indeterminado. Pronome adjetivo indefinido, então, é o que acompanha um substantivo sem determiná-lo com clareza, sem especificá-lo. Por exemplo:

 

– “Alguns políticos são corruptos”;

– “Muitos eleitores não têm consciência política”.

 

Se o substantivo acompanhado pelo pronome indefinido não pode ser especificado, determinado, também não pode ser acompanhado de artigo definido (o, a, os, as):

 

– “Alguns homens”;

– “Outro negócio”;

– “Nenhum dinheiro”.

 

O mesmo ocorre com o pronome indefinido “todo”, e o feminino correspondente “toda”. Por exemplo:

 

– “Todo povo tem os líderes que merece”, e não “Todo o povo”;

– “Todo cidadão tem direitos e deveres”, e não “Todo o cidadão”.

– “Toda cidade tem de ser bem administrada”, e não “Toda a cidade”.

 

Se o pronome indefinido “todo” – ou “toda” – for, porém, usado no plural, a regra, estranhamente, não é seguida, e o artigo tem de acompanhar o substantivo:

 

– “Todas as pessoas”;

– “Todos os cidadãos”;

– “Todas as cidades”.

 

Como adjetivo, significa, ainda segundo o dicionário Houaiss, “a que não falta nenhuma parte; inteiro, completo, total”. Adjetivo é a classe gramatical a que pertencem as palavras que modificam substantivos, acrescentando-lhe qualidade, extensão ou quantidade, mantendo-lhe o artigo. Por exemplo:

 

– “Choveu toda a noite”, ou seja, “Choveu a noite toda, a noite inteira”.

– “Todo o país participou das manifestações”, ou seja, “O país todo, o país inteiro”.

 

Analisando-se, então, a frase apresentada no título desta coluna e o contexto dela, vemos que o vocábulo “toda” utilizado é um pronome adjetivo indefinido, pois qualquer prisão é desonrosa, seja qual for a prisão, ela é desonrosa. Claro está que o substantivo “prisão”, nessa frase, significa “ato ou efeito de prender”. Como se trata de pronome adjetivo indefinido, deve-se escrever a frase sem artigo, e não com ele, como na frase atribuída a Roberto Jefferson:

 

– “Toda prisão é desonrosa”.