Ministro garante rentabilidade do trigo. – Gramática On-line
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25 de abril de 2014
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25 de abril de 2014

Ministro garante rentabilidade do trigo.

 

Existe uma matéria do âmbito escolar denominada de Regência, que pode ser verbal ou nominal: aquela quanto aos verbos; esta quanto aos substantivos, adjetivos e advérbios. É o estudo que concerne ao uso ou não de uma preposição diante do elemento regente – o verbo, o substantivo, o adjetivo ou o advérbio – em relação ao elemento regido. É o que chamamos de, gramaticalmente, regência verbal, quando se trata de verbo, e de regência nominal quando se trata de substantivo, de adjetivo e de advérbio. É necessário o uso de um bom dicionário de regência verbal e de outro de regência nominal para saber qual preposição (ou quais) é possível usar com determinado verbo, substantivo, adjetivo ou advérbio para que este estabeleça uma relação com seu elemento regido.

Um bom exemplo é o do substantivo “amor”, pois, de acordo com os bons dicionários de regência nominal, tanto se pode usar amor de algo/alguém, quanto amor a, para ou para com algo/alguém ou ainda amor por algo/alguém, depende do significado que se queira, ou se necessite, dar à frase.

Alguns substantivos e adjetivos trazem grandes dificuldades a quem quer escrever um texto impecável. Sem uma boa pesquisa, o autor da frase acaba cometendo inadequações gramaticais imperceptíveis a ele e ao leitor incauto. Por exemplo, observe a frase apresentada no título de nossa coluna:

– Ministro garante rentabilidade do trigo.

Imagine se estivesse escrito “… rentabilidade ao trigo”. Haveria diferença? Os leitores interpretariam a frase diferentemente? Acredito que não. Se um jornal colocasse tal frase como manchete, certamente o leitor entenderia a mensagem independentemente da preposição usada:

– Ministro garante rentabilidade do trigo.
– Ministro garante rentabilidade ao trigo.

Ambas as frases trariam o mesmo resultado concernentemente ao significado: “o trigo vai render mais”. Não é o que ocorre, porém, quanto ao significado que cada preposição dá à frase. Vamos à explicação:

Alguns substantivos que indicam posse de um elemento sobre outro exigem a preposição “de” exatamente para indicar isso: casa de Pedro, campo de trigo, estado do Paraná, etc.

Em outros casos, porém, a preposição “de” serve para indicar que há um elemento agente sobre outro, o paciente, ou seja, que há um elemento que pratica uma ação sobre determinado elemento. Ocorre, entretanto, que a preposição “a” também indica o mesmo. A diferença está em o elemento ser agente ou paciente. Por exemplo, observe as seguintes frases:

– A solidariedade das entidades assistenciais às comunidades carentes.
– A solidariedade às entidades assistências das comunidades carentes.

Qual a diferença de sentido?

A preposição “de”, diante de um substantivo abstrato que denota ação, traz o significado de elemento agente, ou seja, a preposição “de”, posterior a um substantivo abstrato, indica que o elemento regido age sobre determinado elemento, que será regido pela preposição “a”. Esta preposição, por sua vez, diante do mesmo substantivo abstrato, indica que o elemento sofre ou recebe a ação praticada por outro.

O substantivo “solidariedade” é abstrato, pois indica a característica de quem é “solidário” (Todo substantivo que indica a característica de um adjetivo é abstrato). A preposição “de” diante do substantivo “solidariedade”, portanto, indica que o elemento regido pratica a ação; já a preposição “a” indica que o elemento regido sofre ou recebe tal ação. O significado, portanto, das frases apresentadas é o seguinte:

– A solidariedade das entidades assistenciais às comunidades carentes. – As entidades assistenciais se solidarizam com as comunidades carentes.
– A solidariedade às entidades assistências das comunidades carentes.
– As comunidades carentes se solidarizam com as entidades assistenciais.

A frase apresentada no título não poderia, portanto, ser apresentada com a preposição “a”, pois não teria o significado pretendido. Observe bem:

– Ministro garante rentabilidade (de algo/alguém) ao trigo.
Significaria que algo/alguém renderia, ou seja, traria lucro ao trigo.

– Ministro garante rentabilidade (a algo/alguém) do trigo.

Significaria que o trigo traria lucro a algo/alguém.

Lógico está que a segunda frase é a pretendida:

– Ministro garante rentabilidade (a algo/alguém) do trigo.

Ou seja, o trigo trará rentabilidade a alguém.